19/03/2018

Sobre o sofrimento / Über das Leiden

Sobre o sofrimento/ Über das Leiden

Por Albany Estrela Herrmann*

  
Pergunta: - Por quê existem os sofrimentos? Por quê Deus permite que exista o sofrimento e por quê não vivemos um segundo Paraíso na terra?

É muito fácil colocar tudo de ruim que acontece com a gente na conta do Inimigo. Será mesmo que tudo de mau que nos acontece é culpa dele? É culpa de espíritos malígnos, dos seus seguidores ou de nossas próprias escolhas erradas?

Em todo filme que se preze existe o bandido e o mocinho, o super-herói e seu arqui-inimigo, o bem e o mal são enredo de muitas coisas: novelas, filmes, letras de músicas e estão presentes diariamente em nossas vidas.

O maior canalha que já conheci na minha vida estudou Teologia, passou anos lendo a Bíblia, dá aulas de religião e fala de Deus no trabalho todos os dias. Até a tese dele foi sobre este tema: o sofrimento. Como pode uma pessoa viver com tal moral esquizofrênica? Na igreja e no trabalho é uma coisa e em casa é outra totalmente diferente? Síndrome do médico e do monstro, talvez? Ou pura falta de caráter?

É como aquele pastor que se comporta assim: se a irmãzinha piranha gospel, dá mole, ele vai mesmo para o motel com ela para depois no outro dia, estar lá na frente de todos, pregando a palavra… E a irmãzinha “a dadeira gospel” senta do lado da esposa dele na igreja e puxa até papo!

É o irmãozinho que você conhece da igreja, que você conviveu por anos e anos e no momento que você não frequenta mais aquela igreja, vira a cara para você na rua e não quer mais contato? Você não é mais filho de Deus e virou uma pessoa desprezível por frequentar outra igreja? A pessoa que me disse isso, sabe bem do que eu estou falando…

Falemos do dízimo e das nomenclaturas religiosas. Os próprios homens inventaram tudo isso. Não há passagem alguma na Bíblia que cite o dízimo como obrigacão. Dá quem pode, dá quem tem e dá quem quer… Não acredito que Deus fique feliz em saber que uma mãe deixou de comprar pão para seus filhos, porque teve que pagar o dízimo e está passando necessidades. Tem que pagar!!! Deus vai te dar em dobro!!! Neste momento eu penso, existem necessidades imediatas na vida da gente em que não podemos esperar. Um remédio caro que precisa ser comprado, por exemplo…

As religiões que conhecemos hoje, e no Brasil são muitas, não foram determinadas por Deus. Se fosse assim todos nós deveríamos ser judeus como Jesus foi. E não somos! Isso mostra que independente da vertente da igreja que eu vá, o importante para Ele, é crer na palavra e não interessa se eu sou evangélico, católico, protestante do último dia e último suspiro que fulano deu não sei aonde!!! Gente, o importante aqui, repito, é a fé, e não qual é o nome que deram para categorizar o meu tipo de fé.

1 – Sofrer por causa de uma doença:
Às vezes penso, por quê uma criança inocente nasce com uma doença grave tipo leucemia? O quê essa criaturinha fez de errado para vir ao mundo já sofrendo assim? Esse papo de livre arbítrio e de sofrer por nossas próprias escolhas não se aplica aqui, pois a criança nunca fez nada de errado na curta vidinha dela… Então por quê ela sofre?

2 – Sofrer pela consequência do sofrer alheio:
Se os nossos filhos sofrem, sofremos por tabela. Todo pai e mãe normais se sentem assim e procuram ajudar, aconselhar e ouvir. Ouvir pode ajudar muito, pois muitos não têm com quem desabafar. No auge do sufoco fica difícil enxergar uma possível saída e quem está de fora, às vezes, tem a visão da situação como um todo e pode mostrar um outro ângulo para que a pessoa páre de sofrer.

3 – Sofrer por escolher errado:
Se num determinado momento da minha vida eu escolho conscientemente uma determinada coisa, sou responsável pelas consequências desta minha escolha. Eu escolhi uma pessoa como parceiro, caso e depois percebo que não estou feliz e que fiz a escolha errada. A pessoa muda totalmente com o passar do tempo, cai a máscara, ou eu vejo que aquilo que achava que era o melhor para mim no fim das contas não era…

4 – Sofrer pela incapacidade alheia:

Conheci uma família aqui na Alemanha que tinha adotado um menino do Brasil. Ele tinha uma irmã de 5 anos e o casal não queria separar os dois. Me chamaram para ajudar com a comunicação, pois o casal alemão não falava português e a menina não entendia nada de alemão. O garoto tinha um ano e meio, falava só algumas palavras soltas e ainda usava fraldas.
Cheguei na casa da família e ouvi que a mãe dos meninos tinha um filho atrás do outro e os jogava na rua. A menina foi encontrada embaixo de uma ponte em São Paulo com o irmão no colo. Pensei: - Coitados! Sofrendo em vários níveis! Abandonados pela própria mãe sem nada na rua e agora em outro país com pessoas estranhas falando uma outra língua que eles não entendem…
5 – Sofrer pelos erros dos outros:
Continuando o cenário anterior, uma criança inocente e que não pediu para nascer vai parar na casa de outro parente, porque os pais ou não têm condição de criar ou não querem criar esta criança. Essa pessoínha cresce ouvindo que ela é um estorvo e que por misericórdia divina e o “ótimo caráter” deste ser “acolhedor” ainda está viva.

Ela vive em processo de humilhação diário e sofre pelos erros que os pais cometeram. Nem sempre quem te extende a mão quer te ajudar. Existem as pessoas como esta que necessitam do „ibope“ de que ela sim é uma serva divina digna de todo reconhecimento por acolher uma criança necessitada, mas na verdade, ela tortura a criança psicologicamente dia após dia e para os outros se passa como sendo a boazinha de enorme coração…

6 – Sofrer porque se quer sofrer:
Estranho isso, né? Mas existem mesmo pessoas por aí que gostam de sofrer. Procuram um motivo para reclamar de tudo, de todos e só se sentem vivas se sentem dor. Parece que o corpo morreu e que não há outra coisa que as faça se sentirem vivas senão através da dor.

Sem dúvida isso é um caso para se deitar em um divã, verificar o que saiu de errado na “composição emocional” deste ser. Não é normal se mutilar fisico- ou psicologicamente para poder assim desta forma doentia “ativar” sentimentos e emoções.

7 – Sofrer por uma catástofre:
Isso não está nas nossas mãos, infelizmente. Conheci uma professora que morreu no acidente do avião da Air France saindo do Rio de Janeiro. Não sobrou nada.
Perguntas: - Todos os outros passageiros que morreram junto sofreram pela consequência de uma escolha errada do piloto?
Foi Deus que decidiu que naquela hora era o fim da linha para todos os passageiros?
Ou foi o mecânico que não checou a máquina direito e deixou decolar assim mesmo?
Ou foi o abastecedor que não colocou combustível suficiente para o trajeto até Paris?
Ou foi o Inimigo que mandou uma raio na hora e derrubou este avião matando todos?
8 – Sofrer pelo descontrole alheio:
Hoje perdi o sono no meio da noite e liguei a tv. Estava passando um documentário sobre uma escola nos USA aonde ocorreu um massacre. Dois rapazes de 17 anos, também estudantes desta mesma escola, mataram e feriram 56 pessoas. Os dois invadiram a escola às 10 hrs da manhã e a polícia só entrou no prédio às 15 hrs. Vários carros ficaram por horas parados na frente da escola escutando todos serem executados pelos dois rapazes.

Os pais destes rapazes sabiam do „hobby“deles e das armas que tinham em casa. Por quê ninguém confiscou isso deles antes que uma desgraça acontecesse?

Os diretores já sabiam das tendências agressivas dos dois e não tomaram nenhuma providência. Seguiam impunes espancando, roubando e cometendo outros delitos na escola.

Um dos rapazes fazia uso de medicamentos contra depressão e esquizofrenia. Houve até uma troca de medicamento por outro de dosagem maior. E os pais ou os médicos que receitaram isso para ele não levaram em consideração deixá-lo sob observação?
O outro rapaz tinha gravado vários vídeos falando coisa com coisa, xingando, ameaçando, rindo e provando que era no mínimo digno de ser posto em uma camisa de força. Ninguém nunca se interessou por ele. Será que esta foi a maneira que ele encontrou de chamar a atenção para si?

9 – Sofrer por vergonha:
Quando eu tinha uns 15 anos mais ou menos, ouvi a seguinte estória: uma vizinha queria muito ter outros filhos, mas não conseguia. Uma vez veio uma ajudante do interior para trabalhar no RJ e juntar um dinheiro para depois voltar para casa. A menina se envolveu com um cara e acabou grávida dele. O cara sumiu sem deixar vestígios. A menina queria abortar de qualquer maneira.

A vizinha fez a proposta de registrar a criança como se fosse filha dela e que iria dizer que foi um parto em casa: - Você volta para casa e não se toca mais no assunto. Só tem um porém, se você se arrepender um dia, nunca vai poder tirar ela de mim. Eu não vou deixar! Pense bem e me dê a resposta!

A menina passou a gravidez toda lá e o parto e tudo que precisava foi pago pela patroa dela. O combinado foi feito e ela retornou para o interior. Nunca mais se viu ou ouviu falar nela. Ela realmente fechou esta porta na vida dela e nunca olhou para trás. Será que ela não sofre até hoje pelo arrependimento de ter deixado o bebê assim? A criança não teve culpa de nada: do mau-caráter do pai, do abandono da mãe e da incapacidade da vizinha de ter seus próprios filhos. Será que foi melhor assim para ela?

10 – Sofrer por causa da consciência:
Ninguém permaneceria imóvel ao ver uma filha sendo estuprada na sua frente, ou ver seu filho sendo torturado ou abusado diante de seus olhos. Se o dano é apenas material, a gente se chateia, mas isso passa. Compramos outras vez. Deus proverá! Mas se o dano é moral e físico a estória é bem outra!

Nestes momentos desarmam-se todos os fusíveis imaginários em nossas cabeças e no coração: clack, clack, clack. É uma questão de sobrevivência e passamos a funcionar no modo animal. Ou eu mato, ou morro. A dor fala mais alto do que qualquer mandamento e a fera dentro de nós reseta todos os valores que aprendemos na escola, em casa ou na igreja. Eu tenho plena consciência de que o que vou fazer é errado, mas se eu não fizer, as consequências serão muito piores…

Se você vive uma vida voltada para seu trabalho, família e segue tudo bonitinho como manda o figurino, por quê, mesmo assim, eu tenho o meu lar invadido por pessoas que querem ferir as pessoas que eu amo? Eu sempre fiz tudo certo, sempre segui todos os valores e princípios bíblicos. Por quê aconteceu isso comigo?

Eu penso o seguinte: - Se essa(s) pessoa(s) decidiu invadir meu lar, violentar meus entes queridos, sacar meus bens materiais que foram comprados com sacrifício e são frutos do nosso trabalho, ela também fez uma escolha. Sim, a escolha errada, pois eu não conseguiria viver depois tendo estas imagens horríveis de abuso tatuadas na minha memória.

E nessa hora sobrevive o mais forte. É a leoa ou o leão defendendo a cria, defendendo-se e atacando para não perecer… Eu não sou a favor da violência, mas penso da seguinte maneira, assim como o karatê não deve ser usado para atacar, mas sim para se defender, eu tenho o direito de defesa.

Eu tenho o direito de atirar e mirar na cabeça de uma criatura abobinável que está invadindo e ameaçando violar a paz que eu construo em meu lar dia após dia? Atirar para matar dentro da minha própria casa para me defender ou para defender a minha família, é legítima defesa, na minha opinião. E a escolha errada quem fez foi quem invadiu a minha vida…

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E obrigada por visitar meu blog!!!

* Professora de Alemão  (Deutsch als Fremdsprache DAF, com certificado do MEC Ministério Alemão - BAMF-Zulassung) e Português para Estrangeiros (PLE Universidade de Tübingen),  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de JaneiroMestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen



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