09/04/2014

Sobre viver no exterior/Über das Leben im Ausland



Por Albany Estrela Herrmann*


Viver no exterior não é nenhum conto de fadas como muitas pessoas imaginam. Nem todos ficam ricos da noite para o dia só por morar fora. Muito menos é um sinônimo de ganhar na loteria. Morar fora requer empenho e trabalho dobrados.  Aqui vai mais uma listinha que fiz com prós e contras. Vamos começar pelas coisas boas:

Prós

1 – Amadurecimento pessoal. Sem dúvida o fato de sairmos da nossa zona de conforto, do colinho de mamãe, nos obriga a ter que se virar nos trinta. Sempre! 

2 – Aprender a ter que encarar todo tipo de desafio e ser corajosa.

3 – Valorizar muito mais a família que tínhamos ali o tempo todo do nosso lado no Brasil.

4 – Passar a gostar de coisas que achávamos banais/bossais quando morávamos no Brasil. Hoje em dia eu escuto até pagode em casa!!!! 

5 – Tornar-se uma pessoa mais organizada e mais responsável. Não que eu não fosse antes, mais é que aqui na Alemanha sem planejamento e sem organização, não rola simplesmente NADA! Os alemães dizem: - Preciso dormir uns dias e pensar no assunto e amadurecer esta ideia. Nada aqui funciona no esquema “de vez”, tudo tem que “estar maduro” quase que caindo do pé kkk.

6 – A assistência médica é boa, cobrindo inclusive os tratamentos dentários. Delícia! O problema é que os médicos aqui pensam diferente dos brasileiros, mas isso é uma outra estória…

7 – As universidades são ótimas. Um paraíso para as “traças de biblioteca” como eu. Só a universidade de Heidelberg é mais antiga do que o nosso país! Mais antiga que o Brasil!

8 – A gente passa a se contentar e a ficar feliz com pouco. Digo, para quem era cheio de nove horas e frescuras no Brasil, aqui você não tem como manter certos hábitos e acaba por optar pelo método “não tem cão, caça com gato”. E se não tem gato, eu mato no tapa mesmo kkk!

9 – Você percebe que você pode muito mais e é muito mais forte do que pensava. Você cria uma armadura tipo Homem de Ferro e aprende a lutar pelos seus direitos. Aprende a ser informar mais!

10 – Uma vez que você já trabalha e mostra seu potencial, recebe o devido reconhecimento por isto. No meu caso a coisa se potencializa, pois ser professor no Brasil e ser professor na Alemanha são coisas MUITO diversas. Me sinto feliz por escutar de meus alunos que curtem muito as minhas aulas, que prezam muito o que eu falo e que eu mostro para eles uma maneira diferente de ver o próprio idioma. Como eu estudei Alemão, a gente meio que disseca estruturas, faz uma raio-x de costumes e analisa tudo que se fala ou escreve.

Contras

1 – Preconceito por ser estrangeiro: - O que você está fazendo aqui? E quando é que você vai embora?

2 – Recomeçar a vida do zero não é facil não. 

3 – Saudades da casa e da família.

4 – Ter que adaptar-se a um clima frio.

5 – Acostumar-se a ter que comer e beber outras coisas. Com o tempo a gente se acostuma!

6 – Para garantir seu lugar ao sol, você TEM que dominar o idioma fluentemente.

7 – Acostumar-se à cultura que nos parece fria, pelo menos inicialmente

8 – Sofrer como louca para mostrar que você tem cacife sim e pode fazer os trabalhos acadêmicos igual a todo aluno. Não é por ser brasileira que eu necessariamente só sei rebolar e usar biquini!

9 – Para se estabeler e obter o emprego desejado, somos prejudicados, às vezes, quando o selecionador tem pinimas com estrangeiros. O boicote é inevitável e fazer carreira é muito mais difícil do que no Brasil. A qualificação e experiência são quase que standard por aqui. E ao contrário do que muitos pensam, o tal do QI (quem indica), em alemão Vitamina B de Beziehung (connections) é bem comum.

10 – Fazer amigos é bem mais complicado, demorado e raro. A solidão, às vezes nos leva a tentar se aproximar mais de brasileiros. Talvez para sentir mais um pouco do flair tupiniquim, mas pode, também, levar você a entrar numa fria. Infelizmente tem gente de todo tipo no exterior e a gente fica meio que bobinho (em alemão se diz, usando um óculos cor de rosa) e fica meio que otário acreditando e confiando nas pessoas sem “maldar” nada.  Acoooorda!

* Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.