Por Albany Estrela Herrmann*
Viver no exterior não é nenhum conto de fadas
como muitas pessoas imaginam. Nem todos ficam ricos da noite para o dia só por
morar fora. Muito menos é um sinônimo de ganhar na loteria. Morar fora requer
empenho e trabalho dobrados. Aqui vai mais
uma listinha que fiz com prós e contras. Vamos começar pelas coisas boas:
Prós
1 – Amadurecimento pessoal. Sem dúvida o fato de
sairmos da nossa zona de conforto, do colinho de mamãe, nos obriga a ter que
se virar nos trinta. Sempre!
2 – Aprender a ter que encarar todo tipo de
desafio e ser corajosa.
3 – Valorizar muito mais a família que tínhamos
ali o tempo todo do nosso lado no Brasil.
4 – Passar a gostar de coisas que achávamos
banais/bossais quando morávamos no Brasil. Hoje em
dia eu escuto até pagode em casa!!!!
5 – Tornar-se uma pessoa mais organizada e mais
responsável. Não
que eu não fosse antes, mais é que aqui na Alemanha sem planejamento e sem organização,
não rola simplesmente NADA! Os alemães dizem: - Preciso dormir uns dias e
pensar no assunto e amadurecer esta ideia. Nada aqui funciona no esquema “de
vez”, tudo tem que “estar maduro” quase que caindo do pé kkk.
6 – A assistência médica é boa, cobrindo
inclusive os tratamentos dentários. Delícia! O problema é que os médicos aqui
pensam diferente dos brasileiros, mas isso é uma outra estória…
7 – As universidades são ótimas. Um paraíso para
as “traças de biblioteca” como eu. Só a universidade de Heidelberg é mais
antiga do que o nosso país! Mais antiga que o Brasil!
8 – A gente passa a se contentar e a ficar feliz
com pouco. Digo, para quem era cheio de nove horas e frescuras no Brasil, aqui
você não tem como manter certos hábitos e acaba por optar pelo método “não tem
cão, caça com gato”. E se não tem gato, eu mato no tapa mesmo kkk!
9 – Você percebe que você pode muito mais e é
muito mais forte do que pensava. Você cria uma armadura tipo Homem de Ferro e
aprende a lutar pelos seus direitos. Aprende a ser informar mais!
10 – Uma vez que você já trabalha e mostra seu
potencial, recebe o devido reconhecimento por isto. No meu caso a coisa se
potencializa, pois ser professor no Brasil e ser professor na Alemanha são
coisas MUITO diversas. Me sinto feliz por escutar de meus alunos que curtem
muito as minhas aulas, que prezam muito o que eu falo e que eu mostro para eles
uma maneira diferente de ver o próprio idioma. Como eu estudei Alemão, a gente
meio que disseca estruturas, faz uma raio-x de costumes e analisa tudo que se
fala ou escreve.
Contras
1 – Preconceito por ser estrangeiro: - O que você
está fazendo aqui? E quando é que você vai embora?
2 – Recomeçar a vida do zero não é facil não.
3 – Saudades da casa e da família.
4 – Ter que adaptar-se a um clima frio.
5 – Acostumar-se a ter que comer e beber outras
coisas. Com o tempo a gente se acostuma!
6 – Para garantir seu lugar ao sol, você TEM que dominar
o idioma fluentemente.
7 – Acostumar-se à cultura que nos parece fria, pelo menos inicialmente
8 – Sofrer como louca para mostrar que você tem
cacife sim e pode fazer os trabalhos acadêmicos igual a todo aluno. Não é por ser
brasileira que eu necessariamente só sei rebolar e usar biquini!
9 – Para se estabeler e obter o emprego desejado,
somos prejudicados, às vezes, quando o selecionador tem pinimas com
estrangeiros. O boicote é inevitável e fazer carreira é muito mais difícil do
que no Brasil. A qualificação e experiência são quase que standard por aqui. E ao contrário do que muitos pensam, o tal do QI
(quem indica), em alemão Vitamina B de Beziehung (connections) é bem comum.
10 – Fazer amigos é bem mais complicado, demorado
e raro. A solidão, às vezes nos leva a tentar se aproximar mais de brasileiros.
Talvez para sentir mais um pouco do flair
tupiniquim, mas pode, também, levar você a entrar numa fria. Infelizmente tem
gente de todo tipo no exterior e a gente fica meio que bobinho (em alemão se
diz, usando um óculos cor de rosa) e fica meio que otário acreditando e
confiando nas pessoas sem “maldar” nada. Acoooorda!
* Professora de Português para
Estrangeiros na VHS de Stuttgart, Licenciada em Letras Português e Alemão
pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia
Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.
Um comentário:
É assim mesmo! Para mim, o lado bom é sair da zona de conforto e o ruim é ter que provar sempre que você é capaz. Amei o texto!
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