25/10/2013

Sobre a cozinha alemã/Über die deutsche Küche II


Por Albany Estrela Herrmann*

Para quem não leu o texto anterior, eu escrevi sobre a culinária alemã e sobre determinadas coisas que são bem exóticas para nós brazucas em se tratando da culinária na Alemanha. Escolhi este tema, porque gosto muito de cozinhar.

Como cada um tem lá as suas manias e preferências, essa é a minha – cozinha! Comprar apetrechos para minha cozinha! Eu sou mais ou menos como os homens que entram num “Baumarkt” – loja de material de construção - e não conseguem sair sem levar o milésimo “Bohrer” - furadeira elétrica - para a coleção particular deles. O mesmo ocorre comigo, só que com formas de bolo, material de decoração de pratos, enfim, na cozinha.

Eis que publico agora o que eu gosto, fazendo um comentário instrutivo sobre alguns itens:

1 – Bretzel:

Quem inventou? Wer hat es erfunden?

 
Delícia!!!
Os bávaros (desculpa aí, Veit! :) dizem que foram eles. Os suábios também. O resto da Alemanha nem tem este tipo de pão e quando tem, não é igual ao daqui do sul da Alemanha! Nada se compara ao Bretzel crocante com um salzinho por fora que encontramos nesta região sudeste abençoada!


Esqueçam o “pretzel” dos Americanos! Não tem nada parecido com o original!

Uma lenda diz que foi um padeiro da região de Bad Urach quem criou este formato ganhando o concurso de quem era capaz de criar um pão aonde o sol brilhasse através dele e isso 3 vezes:


„Back einen Kuchen lieber Freund, durch den die Sonne dreimal scheint, dann wirst du nicht gehenkt, dein Leben sei dir frei geschenkt.“

2 – Spätzle ou Knöpfle, o primo próximo do Spätzle:


A história do “Spätzle” tem registros a partir da metade do século XVIII. Os suábios eram pobres e principalmente nas regiões montanhosas (Schwäbischen Alb) as terras não eram muito férteis. Farinha, ovos e água e já estava resolvido o problema da fome criando-se uma massa de macarrão bem fácil de fazer e gostosa.

 
Maneira tradicional de fazer
Prontinho para comer...
O Knöpfle é a versão mini do Spätzle. Aqui a massa é feita em formato de bolinha ou botão, daí Knopf – botão em alemão. Preparo igual, gosto igual, só que outro “design” .

O macarrão caseiro. Estou craque em fazer o Spätzle tradicional com a tábua e o raspador (meus discípulos Vini e Wal que o digam). Foi um ex-namorado meu que me “iniciou” na arte de fazer Spätzle em casa e não se compara ao comprado pronto nos supermercados! 

Aliás, eu e ele cozinhamos muitas vezes juntos para amigos no alojamento da uni aonde morávamos. Era sempre uma alegria receber os amigos brasileiros na cozinha comunitária e servir aquela bandejona de Spätzle!


3 – Os iogurtes e queijos:


O que mais encontramos no Brasil é: ou queijo minas ou queijo prato. Aqui a variedade é bem grande e o preço bem em conta. Já provei e já usei de tudo! Eu sou carnívora, mas fui criada numa família vegetariana, pode? Existe sempre uma ovelha negra nas melhores famílias! Eu, além de ter os cabelos negros, sou a filha carnívora :D  - Nobody is perfect, gell?  ;D


Não querendo falar mal, mas já falando, os iogurtes no Brasil são muito ralinhos. Quando queremos algum melhorzinho, pagamos caro. Aqui todas as marcas são boas!


4 – Os chocolates: Quadratisch. Praktisch. Lecker!



Pecado! Os chocolates são simplesmente ma-ra-vi-lho-sos! Sempre que vou ao Brasil é obrigatório trazer um bando de barras de Ritter Sport (fábrica de chocolates aqui pertinho de casa). Também adoro quase todos e fico sempre esperando alguma novidade sair no mercado!


5 – As padarias alemães: Teufelszeug!!! Achtung!!! Gefahr!!!


Gente, eu me senti como Gretel na casa da bruxa feita de doces! Comecei a comer todo dia coisas diferentes e a provar tudo que via pela frente na padaria perto de casa. Resultado? Engordei horrores!!!! Meu Deus!!! Cadê a „Bikinifigur“? Tornou-se um Whale Watching… 


Aviso às meninas recém-chegadas, segurem a boca, pois a gente sempre engorda aqui na Alemanha! No Brasil a vida é muito corrida, a gente malha mais, a aparência física (vide meu post sobre “A vaidade da mulher brasileira”) conta muito mais e por isso, controlamos mais as nossas boquinhas nervosas e além disso, debaixo de tanta roupa que temos que usar aqui por causa do frio, nem dá para reparar um “Spekinho” (uma gordurinha) aqui e acolá, né?


Mais eu como karateca que sou, estava me sentindo uma lutadora de sumô e fui malhar para correr atrás do prejuízo e voltar ao meu “shape” normal… Consegui!


6 – As geleias caseiras:


Toda dona de casa alemã que se preze, sabe fazer geleia! E como a cozinha é meu „domain“ absoluto, eu já fiz geleia de várias frutas! Eu uso as do meu quintal e faço sempre um panelão! 

Geralmente compro uns vidros bonitinhos no supermercado e decoro para dar de presente para os amigos já que eu não curto nada doce no pão. Nem Nutella! 

Algumas eu guardo para os biscoitinhos de Natal que levam um pouco de geleia em cima…


7 – Os frios:


Salsichas, fatiados, salames, presuntos e por aí vai. Muita coisa 

boa e com um precinho melhor ainda.        


8 – Maultaschen:

Um tipo de ravioli alemão recheado com carne e espinafre. Existem várias versões dele e também várias maneiras de prepará-lo. 


Dizem que no séc XVI os monges do mosteiro de Maulbronn (daí o nome de “Maultaschen”, bolsa de Maulbronn) queriam esconder de Deus que comiam carne durante o jejum da Quaresma. 


Por esta razão criaram um prato em que a carne ficava escondida pela massa e misturada ao espinafre ficando totalmente verde por dentro. 

Esta especialidade também é chamada de “divinos enganos" – tradução beeeeeem light ;) que em suábio se chama “Herrgottbescheißerle”. Ao pé da letra seria – sacaneando o Senhor “de leve” ou dando uma pequena sacaneada no Senhor.
 
Abaixo mostro a massa e a carne "escondida" he he he:

A carne escondida por dentro e tingida de verde pelo espinafre
9 – Os mil e um diferentes pratos feitos com batata:


Já tinha comentado a respeito no meu post „Uma brasileira na Alemanha“. Achei muito legal aprender a fazer várias coisas gastando pouco, rapidamente e ficando satisfeita. Batata com Kräuterquark (um tipo de queijo temperado) eu acho uma delícia.

10 – E a famosa torta floresta negra (Schwarzwälder Kirschtorte):
 
Massa de pão de ló com chocolate, cerejas, chantily e Kirschwasser (licor de cerejas). 

Minha preferida!
Segundo pesquisas do arquivo municipal da cidade de Tübingen, Udo Rauch afirma que foi o conditor Erwin Hildenbrand quem criou a Schwarzwälder Kirschtorte em 1930 no Café Walz de Tübingen. 

Minha torta preferida e que dá um trabalhão para fazer em casa!!! Quem tiver a oportunidade de ir a visitar a Floresta Negra, aproveite e prove esta delícia local!


* Professora de Português para estrangeiros,  tradutora e intérprete de Português e Alemão. Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.