Por Albany Estrela Herrmann * |
Como já comentei aqui uma vez, existem coisas que
só acontecem comigo... Muitos leitores me perguntaram em off se era verdade o que
tinha escrito ou se tudo fora pura e simples imaginação. Resposta:
- Pior que foi tudo real!
O post anterior foi muito comentado e por
isso resolvi dar uma continuação a esta temática, elaborando uma Parte II.
Afinal, o que não faltam para mim são mais “causos” e situações hilárias para dividir com
vocês! Voltemos aos meus tempos de aluna na Alemanha:
1 – Fazendo
um bico na casa de uma espanhola
Como não tinha muita grana, estava sempre fazendo alguns bicos aqui e
acolá para ganhar um extra. Um deles foi o de passar roupas na casa
de uma espanhola que era casada com um alemão. Ela e o marido saíam para
trabalhar e eu ficava fazendo o serviço (como na casa da Nina Ninja do post anterior). A mulher, querendo me agradar, colocava uma fita
cassete „jurássica” com músicas brasileiras que ela tinha ganhado de não sei
quem (provavelmente um amigo da onça).
Até aí tudo bem, mas o problema é que as músicas eram mais
uma tortura sonora do que propriamente um agrado. Do tipo: Eu não sou cachorro não… Pra viver assim tão
humilhado!!! Eu aguentava a tortura calada (método eficiente de tortura digno de ser
incluído no Bope) e me imaginava uivando igual a um cachorro que tem dores nos
ouvidos. Assim que ela deixava o apartamento, eu desligava imediatamente o
aparelho… Ufa!
Lá estava eu, passando um milhão de camisas de
mangas compridas do marido da espanhola, pensando na vida e meditando. Chamo meu
método de “meditação produtiva” e enquanto medito, limpo a casa, passo roupas e etc… A espanhola era bem sangue quente e o marido
dela estava cheio, digamos, de "más intenções" para o meu lado. Eles deixavam o
apartamento juntos e cada um seguia para o seu respectivo trabalho. O problema
é que ele sempre voltava depois de mais ou menos uns 15 minutos com a desculpa
que tinha esquecido alguma coisa. Eu fingia que não estava percebendo o que ele
pretendia… Pensava: - Esta estória vai acabar dando m… E deu!
Um certo dia, a espanhola esqueceu mesmo alguma
coisa e retornou ao apartamento. Deu de cara com o marido tentando me passar
uma conversinha - pela enésima vez. Nem preciso dizer que o “bicho pegou”. Me despedi ainda ouvindo da porta os berros
da mulher e vendo o marido petrificado sem dizer uma palavra. Nunca mais voltei
lá… Descobri depois de um tempo que ela tinha contratado uma outra brasileira
bem mais velha do que eu e que não apresentava nenhuma “ameaça” para ela.
O marido da espanhola voltando... |
2 – O conde alemão
Fui convidada para uma festa de aniversário de
uma brasileira que conheci no clube da cidade. Chegando lá, conheci outras
brasileiras amigas dela. Uma delas estava trabalhando de Aupair na Alemanha. A
aniversariante apresentou a Aupair para um conde e a menina já estava com os
símbolos de dólar no olhar $ $. Jackpot - pensou ela! Lá pelas tantas da noite,
ela sentou do meu lado no sofá e puxou conversa:
Ela: - Você tinha coragem de “encarar” ele? Ele é rico!
Eu: - Sabe o que é… Dinheiro não é tudo na vida…
Ela: - De „cara limpa“ não dá para encarar não! Ele é muito velho...
Eu rindo: - Bem, conheci meu namorado no Brasil quando ele era estudante de intercâmbio na
universidade que eu estudava e não me interessava pela conta bancária dele, mas se você quer casar
para tirar o pé da lama... Vai que é tua, Taffarel!
Ela: - Vou mesmo!
Depois de um tempo, o conde sentou do meu lado e
também puxou conversa, pois muitas brasileiras não falavam Alemão ou falavam bem
pouco. Ele estava se sentindo super deslocado, pois também não falava
Português…
Ele: - Você conhece a X? (Para não falar o nome)
Eu: - Eu a conheci hoje.
Ele: - Pois é, ela é uma menina tão bonita, mas tem um problema com álcool. Que pena! Toda
vez que eu convido ela para sair, ela bebe demais!
Original em alemão: - So ein hübsches Mädel, aber sie hat ein
Alkoholproblem! Schade! Jedes Mal wenn wir ausgehen, trinkt sie viel zu viel…
Eu penso: - Mal sabe ele qual era o „problema“ dela…
3 – Encontrei uma brasileira
na sala de espera do dentista
Existem duas coisas que eu cuido demais da conta em
mim: dos meus cabelos e das minhas “canjicas”. Ter um sorriso bonito e
branquinho já é meio caminho andado em se tratando de beleza física, pelo menos
na minha opinião… Fui fazer um exame de rotina no dentista e estava na sala de
espera lendo uma revista, quando passou uma brasileira. Ela já estava de saída,
mas entrou na sala e começou a conversar comigo.
Ela me contou que esteve muito doente com câncer
de mama, que tinha feito quimio e antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer
coisa, do nada… ploft! Ela levantou a blusa e mostrou tudo que tinha direito
como se fosse algo totalmente normal.
Penso: - O que fiz de errado para ser esta
“parabólica de malucos”? Isso só acontece comigo! “Estupro visual” é
brincadeira!!! Ninguém merece...
No exato momento do taaa-daaa dela, passou um
enfermeiro pelo corredor e vendo a cena, voltou de marcha ré para se certificar
do que tinha visto…
4 – A festa internacional de rua
Uma vez por ano acontece uma festa internacional
de rua com barracas de vários países perto de onde moro. Uma boa oportunidade de comer algumas
comidas típicas, ouvir música brasileira, conhecer gente e sair um pouco de casa
- pensei. Conheci uma brasileira, conversamos bastante sobre assuntos
diferentes. Pareceu-me ser bem simpática até um certo momento. Depois de muitas
caipis, cervejas e outras bebidas, ela me pergunta se eu já tinha ficado com
uma mulher antes.
Eu penso: - Epa, tava bom demais para ser
verdade… Falo: - Não é a minha praia não.
Ela veio com a famosa frase, típica de quem está
tentando te convencer a passar para “o outro lado da força”: - Como é que você
vai saber se nunca provou?
Eu: - Vou ser sincera… Eu gosto de homem e só de homem. Meu „hardware“ e meu „software“ estão programados
assim. Meu lema é: - „Never change a running system“…
Ela: - Ah, que pena! Pensei que você também
estava interessada…
5 – A namoradinha de um amigo meu
Está certo que o amor nos deixa cegos, mas que também
pode deixar-nos mudos, surdos e restardados é demais! Um amigo meu conheceu uma mulher
no Brasil quando foi de férias e ao retornar disse estar apaixonado por ela.
De vez em quando ele me pedia para ajudá-lo traduzindo as cartas e emails que
ela enviava para ele.
O problema é que ela começou a pedir dinheiro para
ele insistentemente. Eu resolvi alertá-lo dizendo que uma mulher honesta
jamais faria isso, mesmo necessitando muito. Além disso, eles nem se conheciam
direito! Ele não quis ouvir meus avisos e até ficava bravo comigo toda vez que
eu tentava abrir seus olhos…
Foram inúmeros
presentes via correio, transferências bancárias e meu amigo até trabalhava nos
fins de semana para poder ganhar mais e enviar o dinheiro para ela. Eu sabia
que o fim deste romance seria triste, mas todas as minhas tentativas de
salvá-lo do pior, eram em vão. Depois de conseguir tudo aquilo que queria, ela
terminou o namoro com ele dizendo que já estava com outro. Dizer isso numa hora dessas é cruel, mas tive que dizer: - Eu te avisei! Eu te avisei! Tadinho…
6 – O faxineiro pelado
Conheci um rapaz na universidade que estava
matriculado, mas não estudava nada. Ele só tinha a matrícula para poder receber
o visto de estudante. Como ele não tinha bolsa de estudos e também não recebia
ajuda da família, se virava como podia fazendo vários trabalhos temporários - como eu.
Depois de muito tempo sem encontrá-lo, eu estava caminhando na rua principal da
universidade quando alguém me chamou:
- Albaaaany! Não fala mais com pobres não, é!?
Me virei e o reconheci logo! Eu: - Nossa! Como
você está chique! De jaqueta de couro, celular bacana! Ganhou na
loteria?
Ele: - Não! Descobri uma maneira de ganhar a
maior grana. Mole, mole, fácil, fácil!
Eu: - Como? Desembucha aeeee!
Ele: - Estou trabalhando agora como faxineiro e não preciso fazer quase nada, só andar pela casa peladão com o
aspirador de pó ou limpando vidros.
Eu: - Como é que é? E quem é que você „atende“?
Ele: - Minhas "amigas" ficam
sentadas “ no maior voyeurismo” tomando umas e me admirando...
Eu: - Mas você não tem que “pegar na massa” não?
Ele: - Não! Só olhando mesmo… E estou ganhando muito com isso!
Eu penso: Tem doido pra tudo nesta vida… Falo: - Foi bom te ver de novo! Vou nessa, porque tenho aula agora. Tenho que
correr! Beijo! Fui!
O faxineiro pelado |
7 – Distribuindo panfletos na rua
Para ganhar mais uma grana nas férias, encontrei outro
bico para distribuir panfletos pelas casas e pelas ruas. O problema é que quase
todas as casas aqui na Alemanha têm um adesivo colado proibindo jogar
panfletos. O quê fazer? O pior é que eu não estava sozinha!
Conheci um
brasileiro que estava morando na Suécia e estava na Alemanha de visita. Ele
também foi contratado para fazer o serviço, mas não falava uma palavra de alemão!
Só Deus mesmo! Fiquei com pena do rapaz e escolhi uma rota para ele que fosse bem
próxima da minha e eu pudesse fazer as duas rotas junto com ele. Peguei meu mapa e fui à
luta. Tínhamos mais ou menos um total de quinhentos panfletos para distribuir
durante o dia inteiro. Em todas as casas que batíamos, encontrávamos este
(ou um bem parecido) adesivo:
Eu: - Vamos para os estacionamentos dos supermercados e aí colocamos nos
pára-brisas dos carros parados… Minha ideia funcionou, mas somente para uma
parte dos panfletos. Resolvi ir para as ruas, mas ninguém pegava os panfletos
das nossas mãos. Pensei em desistir, mas resolvi enfiá-los assim mesmo, com ou sem
adesivo, dentro do máximo de caixas de correio possíveis.
Eu e ele já estávamos mortos de tanto caminhar e no final do dia nos perdemos e fomos parar dentro de uma fazenda
de gado aonde Judas perdeu as meias (porque as botas ele já tinha perdido bem antes
dali)… O dono da fazenda chegou montado num cavalo e perguntou o que queríamos ali, mas
falava um dialeto antigo que não era o dialeto da região de
Baden-Württemberg de onde moro.
Mesmo aos trancos e barrancos eu conseguia entender tudo que ele falava (benditas sejam as aulas de Minesang e Althochdeutsch que tive durante o curso de Letras no RJ he he he).
Ele foi bonzinho e percebeu o desespero nos olhos do meu companheiro de
panfletagem. Ele nos mostrou o caminho para sair do mato e encontrar a estrada
principal. No meio do caminho, esgotados, com fome e com sede, resolvemos sentar
embaixo de uma árvore aproveitando a sombra.
Eu: - Quantos panfletos ainda temos sobrando?
Ele: - Acho que uns 30 mais ou menos…
Eu: - Só isso! Até que conseguimos nos livrar de
muitos, né?
Ele: - Mas e o resto? O que vamos fazer com isso agora?
Eu: - Vamos cavar um buraco aqui no meio do mato
e enterrá-los. É biodegradável mesmo!
Voltamos para receber o dinheiro do político pela propaganda eleitoral que fizemos… Com a grana em mãos, fomos para o
alojamento.
8 – A discoteca brasileira
Perto da universidade tinha uma discoteca
brasileira. O dono era casado com uma brasileira. Uma vez ele fez um baile de
carnaval e convidou todos os brasileiros da região. Eu não pensei duas vezes
para comprar uma fantasia de índia. Chegando na discoteca, encontrei várias
pessoas conhecidas…
O carnaval alemão não tem nada parecido com o
carnaval carioca que eu conhecia. Começando pelo clima que é super frio, ou
seja, as fantasias têm que esquentar e não podem ser muito fininhas não. A
minha fantasia de índia era mais do tipo Pocahontas comportada; cheia de roupas, do que do tipo Iracema Tupiniquim de Alencar…
Os homens aqui enchem a cara mais do que o
normal nesta época e fazem coisas que eles normalmente não fazem durante todo o
ano: beijar pessoas estranhas na boca, passar a mão em alguém, levantar a saia
do mulherio, ter um one night stand e enfim, o que rolar, rolou… Estranho é ver
estas pessoas tão controladas, tímidas e distanciadas, se transformarem tanto e saírem por aí pintando o sete (o oito,
o nove e o dez também) só por causa do carnaval!
9 – O turco dentro do trem
Eu estava a caminho do trabalho, pois tinha que
dar aulas de Português em uma empresa… Fui de trem, sentei e comecei a ler uma
revista que tinha comprado. Um turco entrou no vagão que eu estava e sentou
bem na minha frente. Ele me perguntou: - Você tem namorado alemão?
Eu: - Por quê? Meu celular toca e era o
meu namorado alemão (ele falava Português).
Turco: - Fala para ele fazer um filho na minha
irmã para ela poder ficar aqui na Alemanha (falando um alemão bem errado e
truncado).
Eu para o namorado no telefone e em Português para turco não entender:
- Amor, tem um turco aqui falando para você fazer um filho na irmã dele
para ela poder morar aqui (risos) na Alemanha.
Namorado fala em alemão assustado: - Waaaas? Spinnst
du?! Albany, hast du was getrunken?
Em Português: - O quêêêê? Tá doida?! Albany, você bebeu?
Eu rindo: - Não (risos)! É sério! Ele está
sentado dentro do vagão…
Namorado: - Levanta e sai agorrrrrrrra!
Eu: - Já está na hora de descer mesmo... Tchau! E
saio correndo sem olhar para o turco…
10 – A aula de Tango
Resolvi ocupar meu tempo livre com alguma
atividade nova e útil. Me matriculei em um curso de tango. Chegando lá, como
estava sem par, fui apresentada para um alemão também sem par. Este vai ser o seu Tanzpartner
daqui para frente! Depois do “oi, como vai, tudo bem” inicial e de praxe, fomos
para a pista de dança. Primeiros contatos. Ele, com no mínimo um metro de
distância entre os corpos, de braço esticado e evitando encostar em mim.
Penso: O Tango é uma dança super sensual e não dá
para dançar isso igual “polca ou minueto medieval”. Vou ter que me pronunciar...
Eu para ele: - Olha só, ou você relaxa ou eu vou
procurar outro par, pois assim está ridículo…
Engraçado isso! Se o meu par fosse brasileiro, já
iria cair “matando” e em cima sem a menor cerimônia: rostinho colado, pegadinha
na cintura e aquela “formatada” entre as pernas - como diria um amigo meu...
Naquele momento, eu estava me vendo do outro lado da moeda…
Depois da minha “chamada”, ele relaxou e já
estávamos dançando bem pacas. Eu continuei dançando com ele por mais dois
cursos até que decidi parar por causa da distância e por ter outros
compromissos de trabalho. Foram 3 cursos de Tango que amei fazer e se tivesse
mais tempo, com certeza, faria outros…
Eu na aula de Tango |
Bom fim de semana para todos e até a próxima sexta, neste mesmo bat canal e neste mesmo bat horário... :-) Albany
* Professora de Português para
Estrangeiros na VHS de Stuttgart, Licenciada em Letras Português e Alemão
pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia
Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.
12 comentários:
Cada história mais deliciosa que a outra. Gostei muito!
Ótimas histórias, quem sabe não se transformam num livro?
Obrigada! Fico feliz que tenha gostado! Volte sempre!
Rai, sabe que eu já fiz um rascunho? Obrigada e um bom fim de semana!
albany, obrigado para partilhar essas lindas historias
e tambem para essa maneira de contar as coisas
com essa sensivilidade.
Eu lendo VC, imagino tudo como se era um film
adoro,
merci
um fiel fan da frança
Eu também tenho a sensacao de que tudo que presenciei, passa pela minha memória como se fosse um filme. Por isso nao queria simplesmente que o tempo apagasse estas boas recordacoes... Quem sou eu para ter fan!!!! :-D Considero todos os meus leitores como "novos amigos" que fiz via blog! Merci bien! E volte sempre!
Morro de rir com seus posts !
Minha querida parabéns pelas sua estórias! Voce as poderia publicá-las em um livro. Amei!!!!!!!
Eu também fico dando risadas enquanto escrevo os posts... Recordar é viver!
Eu é que fico muito feliz em receber seu carinho. Obrigada por gostar do meu trabalho! Bjs.
Muito engracado, gostei!
:-)
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