12/07/2013

Coisas que só acontecem comigo - Parte II

Por Albany Estrela Herrmann *
Como já comentei aqui uma vez, existem coisas que só acontecem comigo... Muitos leitores me perguntaram em off se era verdade o que tinha escrito ou se tudo fora pura e simples imaginação. Resposta: - Pior que foi tudo real! 

O post anterior foi muito comentado e por isso resolvi dar uma continuação a esta temática, elaborando uma Parte II. Afinal, o que não faltam para mim são mais “causos” e situações hilárias para dividir com vocês! Voltemos aos meus tempos de aluna na Alemanha:

1 – Fazendo um bico na casa de uma espanhola

Como não tinha muita grana, estava sempre fazendo alguns bicos aqui e acolá para ganhar um extra. Um deles foi o de passar roupas na casa de uma espanhola que era casada com um alemão. Ela e o marido saíam para trabalhar e eu ficava fazendo o serviço (como na casa da Nina Ninja do post anterior). A mulher, querendo me agradar, colocava uma fita cassete „jurássica” com músicas brasileiras que ela tinha ganhado de não sei quem (provavelmente um amigo da onça). 

Até aí tudo bem, mas o problema é que as músicas eram mais uma tortura sonora do que propriamente um agrado. Do tipo: Eu não sou cachorro não… Pra viver assim tão humilhado!!! Eu aguentava a tortura calada (método eficiente de tortura digno de ser incluído no Bope) e me imaginava uivando igual a um cachorro que tem dores nos ouvidos. Assim que ela deixava o apartamento, eu desligava imediatamente o aparelho… Ufa!

Lá estava eu, passando um milhão de camisas de mangas compridas do marido da espanhola, pensando na vida e meditando. Chamo meu método de “meditação produtiva” e enquanto medito, limpo a casa, passo roupas e etc… A espanhola era bem sangue quente e o marido dela estava cheio, digamos, de "más intenções" para o meu lado. Eles deixavam o apartamento juntos e cada um seguia para o seu respectivo trabalho. O problema é que ele sempre voltava depois de mais ou menos uns 15 minutos com a desculpa que tinha esquecido alguma coisa. Eu fingia que não estava percebendo o que ele pretendia… Pensava: - Esta estória vai acabar dando m… E deu!

Um certo dia, a espanhola esqueceu mesmo alguma coisa e retornou ao apartamento. Deu de cara com o marido tentando me passar uma conversinha - pela enésima vez. Nem preciso dizer que o “bicho pegou”.  Me despedi ainda ouvindo da porta os berros da mulher e vendo o marido petrificado sem dizer uma palavra. Nunca mais voltei lá… Descobri depois de um tempo que ela tinha contratado uma outra brasileira bem mais velha do que eu e que não apresentava nenhuma “ameaça” para ela.

O marido da espanhola voltando...

2 – O conde alemão

Fui convidada para uma festa de aniversário de uma brasileira que conheci no clube da cidade. Chegando lá, conheci outras brasileiras amigas dela. Uma delas estava trabalhando de Aupair na Alemanha. A aniversariante apresentou a Aupair para um conde e a menina já estava com os símbolos de dólar no olhar $ $. Jackpot - pensou ela! Lá pelas tantas da noite, ela sentou do meu lado no sofá e puxou conversa:

Ela: - Você tinha coragem de “encarar” ele? Ele é rico!

Eu: - Sabe o que é… Dinheiro não é tudo na vida…

Ela: - De „cara limpa“ não dá para encarar não! Ele é muito velho...

Eu rindo: - Bem, conheci meu namorado no Brasil quando ele era estudante de intercâmbio na universidade que eu estudava e não me interessava pela conta bancária dele, mas se você quer casar para tirar o pé da lama... Vai que é tua, Taffarel!

Ela: - Vou mesmo! 

Depois de um tempo, o conde sentou do meu lado e também puxou conversa, pois muitas brasileiras não falavam Alemão ou falavam bem pouco. Ele estava se sentindo super deslocado, pois também não falava Português…

Ele: - Você conhece a X? (Para não falar o nome)

Eu: - Eu a conheci hoje.

Ele: - Pois é, ela é uma menina tão bonita, mas tem um problema com álcool. Que pena! Toda vez que eu convido ela para sair, ela bebe demais! 

Original em alemão: - So ein hübsches Mädel, aber sie hat ein Alkoholproblem! Schade! Jedes Mal wenn wir ausgehen, trinkt sie viel zu viel…

Eu penso: - Mal sabe ele qual era o „problema“ dela… 


3 – Encontrei uma brasileira na sala de espera do dentista

Existem duas coisas que eu cuido demais da conta em mim: dos meus cabelos e das minhas “canjicas”. Ter um sorriso bonito e branquinho já é meio caminho andado em se tratando de beleza física, pelo menos na minha opinião… Fui fazer um exame de rotina no dentista e estava na sala de espera lendo uma revista, quando passou uma brasileira. Ela já estava de saída, mas entrou na sala e começou a conversar comigo.

Ela me contou que esteve muito doente com câncer de mama, que tinha feito quimio e antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer coisa, do nada… ploft! Ela levantou a blusa e mostrou tudo que tinha direito como se fosse algo totalmente normal. 

Penso: - O que fiz de errado para ser esta “parabólica de malucos”? Isso só acontece comigo! “Estupro visual” é brincadeira!!! Ninguém merece...

No exato momento do taaa-daaa dela, passou um enfermeiro pelo corredor e vendo a cena, voltou de marcha ré para se certificar do que tinha visto…


4 – A festa internacional de rua

Uma vez por ano acontece uma festa internacional de rua com barracas de vários países perto de onde moro. Uma boa oportunidade de comer algumas comidas típicas, ouvir música brasileira, conhecer gente e sair um pouco de casa - pensei. Conheci uma brasileira, conversamos bastante sobre assuntos diferentes. Pareceu-me ser bem simpática até um certo momento. Depois de muitas caipis, cervejas e outras bebidas, ela me pergunta se eu já tinha ficado com uma mulher antes. 

Eu penso: - Epa, tava bom demais para ser verdade… Falo: - Não é a minha praia não.

Ela veio com a famosa frase, típica de quem está tentando te convencer a passar para “o outro lado da força”: - Como é que você vai saber se nunca provou?

Eu: - Vou ser sincera… Eu gosto de homem e de homem. Meu „hardware“ e meu „software“ estão programados assim. Meu lema é: - „Never change a running system“…

Ela: - Ah, que pena! Pensei que você também estava interessada…


5 – A namoradinha de um amigo meu

Está certo que o amor nos deixa cegos, mas que também pode deixar-nos mudos, surdos e restardados é demais! Um amigo meu conheceu uma mulher no Brasil quando foi de férias e ao retornar disse estar apaixonado por ela. De vez em quando ele me pedia para ajudá-lo traduzindo as cartas e emails que ela enviava para ele. 

O problema é que ela começou a pedir dinheiro para ele insistentemente. Eu resolvi alertá-lo dizendo que uma mulher honesta jamais faria isso, mesmo necessitando muito. Além disso, eles nem se conheciam direito! Ele não quis ouvir meus avisos e até ficava bravo comigo toda vez que eu tentava abrir seus olhos…

Foram inúmeros presentes via correio, transferências bancárias e meu amigo até trabalhava nos fins de semana para poder ganhar mais e enviar o dinheiro para ela. Eu sabia que o fim deste romance seria triste, mas todas as minhas tentativas de salvá-lo do pior, eram em vão. Depois de conseguir tudo aquilo que queria, ela terminou o namoro com ele dizendo que já estava com outro. Dizer isso numa hora dessas é cruel, mas tive que dizer: - Eu te avisei! Eu te avisei! Tadinho…


6 – O faxineiro pelado

Conheci um rapaz na universidade que estava matriculado, mas não estudava nada. Ele só tinha a matrícula para poder receber o visto de estudante. Como ele não tinha bolsa de estudos e também não recebia ajuda da família, se virava como podia fazendo vários trabalhos temporários - como eu. Depois de muito tempo sem encontrá-lo, eu estava caminhando na rua principal da universidade quando alguém me chamou: 

 - Albaaaany! Não fala mais com pobres não, é!?
 
Me virei e o reconheci logo! Eu: - Nossa! Como você está chique! De jaqueta de couro, celular bacana! Ganhou na loteria?

Ele: - Não! Descobri uma maneira de ganhar a maior grana. Mole, mole, fácil, fácil!

Eu: - Como? Desembucha aeeee!

Ele: - Estou trabalhando agora como faxineiro e não preciso fazer quase nada, só andar pela casa peladão com o aspirador de pó ou limpando vidros.

Eu: - Como é que é? E quem é que você „atende“?

Ele: - Minhas "amigas" ficam sentadas “ no maior voyeurismo” tomando umas e me admirando...

Eu: - Mas você não tem que “pegar na massa” não?

Ele: - Não! Só olhando mesmo… E estou ganhando muito com isso!

Eu penso: Tem doido pra tudo nesta vida… Falo: - Foi bom te ver de novo! Vou nessa, porque tenho aula agora. Tenho que correr! Beijo! Fui!

O faxineiro pelado

                                                               
7 – Distribuindo panfletos na rua

Para ganhar mais uma grana nas férias, encontrei outro bico para distribuir panfletos pelas casas e pelas ruas. O problema é que quase todas as casas aqui na Alemanha têm um adesivo colado proibindo jogar panfletos. O quê fazer? O pior é que eu não estava sozinha! 

Conheci um brasileiro que estava morando na Suécia e estava na Alemanha de visita. Ele também foi contratado para fazer o serviço, mas não falava uma palavra de alemão! Só Deus mesmo! Fiquei com pena do rapaz e escolhi uma rota para ele que fosse bem próxima da minha e eu pudesse fazer as duas rotas junto com ele. Peguei meu mapa e fui à luta. Tínhamos mais ou menos um total de quinhentos panfletos para distribuir durante o dia inteiro. Em todas as casas que batíamos, encontrávamos este (ou um bem parecido) adesivo:
 
O adesivo nas caixas de correio
                                                         
Eu: - Vamos para os estacionamentos dos supermercados e aí colocamos nos pára-brisas dos carros parados… Minha ideia funcionou, mas somente para uma parte dos panfletos. Resolvi ir para as ruas, mas ninguém pegava os panfletos das nossas mãos. Pensei em desistir, mas resolvi enfiá-los assim mesmo, com ou sem adesivo, dentro do máximo de caixas de correio possíveis.

Eu e ele já estávamos mortos de tanto caminhar  e no final do dia nos perdemos e fomos parar dentro de uma fazenda de gado aonde Judas perdeu as meias (porque as botas ele já tinha perdido bem antes dali)… O dono da fazenda chegou montado num cavalo e perguntou o que queríamos ali, mas falava um dialeto antigo que não era o dialeto da região de Baden-Württemberg de onde moro. 

Mesmo aos trancos e barrancos eu conseguia entender tudo que ele falava (benditas sejam as aulas de Minesang e Althochdeutsch que tive durante o curso de Letras no RJ he he he). Ele foi bonzinho e percebeu o desespero nos olhos do meu companheiro de panfletagem. Ele nos mostrou o caminho para sair do mato e encontrar a estrada principal. No meio do caminho, esgotados, com fome e com sede, resolvemos sentar embaixo de uma árvore aproveitando a sombra. 

Eu: - Quantos panfletos ainda temos sobrando?

Ele: - Acho que uns 30 mais ou menos… 

Eu: - Só isso! Até que conseguimos nos livrar de muitos, né?

Ele: - Mas e o resto? O que vamos fazer com isso agora?

Eu: - Vamos cavar um buraco aqui no meio do mato e enterrá-los. É biodegradável mesmo!

Voltamos para receber o dinheiro do político pela propaganda eleitoral que fizemos… Com a grana em mãos, fomos para o alojamento.


8 – A discoteca brasileira

Perto da universidade tinha uma discoteca brasileira. O dono era casado com uma brasileira. Uma vez ele fez um baile de carnaval e convidou todos os brasileiros da região. Eu não pensei duas vezes para comprar uma fantasia de índia. Chegando na discoteca, encontrei várias pessoas conhecidas… 

O carnaval alemão não tem nada parecido com o carnaval carioca que eu conhecia. Começando pelo clima que é super frio, ou seja, as fantasias têm que esquentar e não podem ser muito fininhas não. A minha fantasia de índia era mais do tipo Pocahontas comportada; cheia de roupas, do que do tipo Iracema Tupiniquim de Alencar… 

Os homens aqui enchem a cara mais do que o normal nesta época e fazem coisas que eles normalmente não fazem durante todo o ano: beijar pessoas estranhas na boca, passar a mão em alguém, levantar a saia do mulherio, ter um one night stand e enfim, o que rolar, rolou… Estranho é ver estas pessoas tão controladas, tímidas e distanciadas, se transformarem tanto e saírem por aí pintando o sete (o oito, o nove e o dez também) só por causa do carnaval!
 

9 – O turco dentro do trem

Eu estava a caminho do trabalho, pois tinha que dar aulas de Português em uma empresa… Fui de trem, sentei e comecei a ler uma revista que tinha comprado. Um turco entrou no vagão que eu estava e sentou bem na minha frente. Ele me perguntou: - Você tem namorado alemão?

Eu: - Por quê? Meu celular toca e era o meu namorado alemão (ele falava Português).

Turco: - Fala para ele fazer um filho na minha irmã para ela poder ficar aqui na Alemanha (falando um alemão bem errado e truncado).

Eu para o namorado no telefone e em Português para turco não entender: 

- Amor, tem um turco aqui falando para você fazer um filho na irmã dele para ela poder morar aqui (risos) na Alemanha.

Namorado fala em alemão assustado: - Waaaas? Spinnst du?! Albany, hast du was getrunken? 

Em Português: - O quêêêê? Tá doida?! Albany, você bebeu?

Eu rindo: - Não (risos)! É sério! Ele está sentado dentro do vagão…

Namorado: - Levanta e sai agorrrrrrrra!

Eu: - Já está na hora de descer mesmo... Tchau! E saio correndo sem olhar para o turco…


10 – A aula de Tango

Resolvi ocupar meu tempo livre com alguma atividade nova e útil. Me matriculei em um curso de tango. Chegando lá, como estava sem par, fui apresentada para um alemão também sem par. Este vai ser o seu Tanzpartner daqui para frente! Depois do “oi, como vai, tudo bem” inicial e de praxe, fomos para a pista de dança. Primeiros contatos. Ele, com no mínimo um metro de distância entre os corpos, de braço esticado e evitando encostar em mim. 

Penso: O Tango é uma dança super sensual e não dá para dançar isso igual “polca ou minueto medieval”. Vou ter que me pronunciar...

Eu para ele: - Olha só, ou você relaxa ou eu vou procurar outro par, pois assim está ridículo… 

Engraçado isso! Se o meu par fosse brasileiro, já iria cair “matando” e em cima sem a menor cerimônia: rostinho colado, pegadinha na cintura e aquela “formatada” entre as pernas - como diria um amigo meu... Naquele momento, eu estava me vendo do outro lado da moeda…

Depois da minha “chamada”, ele relaxou e já estávamos dançando bem pacas. Eu continuei dançando com ele por mais dois cursos até que decidi parar por causa da distância e por ter outros compromissos de trabalho. Foram 3 cursos de Tango que amei fazer e se tivesse mais tempo, com certeza, faria outros…


Eu na aula de Tango


Bom fim de semana para todos e até a próxima sexta, neste mesmo bat canal e neste mesmo bat horário... :-) Albany

* Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.



12 comentários:

Anônimo disse...

Cada história mais deliciosa que a outra. Gostei muito!

Raimundo Luís Godinho disse...

Ótimas histórias, quem sabe não se transformam num livro?

Albany Estrela Herrmann disse...

Obrigada! Fico feliz que tenha gostado! Volte sempre!

Albany Estrela Herrmann disse...

Rai, sabe que eu já fiz um rascunho? Obrigada e um bom fim de semana!

Anônimo disse...

albany, obrigado para partilhar essas lindas historias
e tambem para essa maneira de contar as coisas
com essa sensivilidade.
Eu lendo VC, imagino tudo como se era um film
adoro,
merci
um fiel fan da frança

Albany Estrela Herrmann disse...

Eu também tenho a sensacao de que tudo que presenciei, passa pela minha memória como se fosse um filme. Por isso nao queria simplesmente que o tempo apagasse estas boas recordacoes... Quem sou eu para ter fan!!!! :-D Considero todos os meus leitores como "novos amigos" que fiz via blog! Merci bien! E volte sempre!

Anônimo disse...

Morro de rir com seus posts !

Anônimo disse...

Minha querida parabéns pelas sua estórias! Voce as poderia publicá-las em um livro. Amei!!!!!!!

Albany Estrela Herrmann disse...

Eu também fico dando risadas enquanto escrevo os posts... Recordar é viver!

Albany Estrela Herrmann disse...

Eu é que fico muito feliz em receber seu carinho. Obrigada por gostar do meu trabalho! Bjs.

Anônimo disse...

Muito engracado, gostei!

Albany Estrela Herrmann disse...

:-)