Por Albany Estrela Herrmann
Vou falar agora sobre a decepção
no sentido amplo desta palavra... Existem vários tipos de decepção. Podemos nos
decepcionar com nós mesmos, com a pessoa que amamos, parentes podem nos decepcionar, um amigo,
enfim, ela pode sempre ocorrer e é uma sensação de culpa misturada com
arrependimento por ter permitido que tal coisa tenha acontecido.
É muito comum criarmos
expectativas na vida e a decepção pode levarmos a um estado tal de
inconformismo que pode fazer com que uma pessoa fique obcecada. O nosso mecanismo
mais comum de proteção é o de colocar a culpa nos outros: - Por quê eu? Eu
tenho tanto azar! Tudo é uma injustiça divina descomunal e a culpa no fim das
contas sempre é dos outros… Nem sempre é…
A intensidade da decepção é
proporcional ao tempo, ao valor e à expectativa que criamos!
1 – Decepção consigo mesmo:
Eu poderia ter estudado
Direito, Medicina ou ter alguma profissão que me desse ou um retorno financeiro ou
pelo menos um status melhor do que o que eu tenho hoje.
Burra eu não sou… Por quê fui
escolher esse caminho?
Sabe aquela síndrome do primo pobre e do primo rico?
Pois é, eu sempre fui a prima pobre…
2 – Decepção com o parceiro:
Vou contar um lance que me
aconteceu enquanto adolescente. Fui passar férias na casa de uma tia minha na
Bahia. Estava começando a namoricar um menino chamado André. Abri o jogo com
ele, que meu pai ia levar eu e minha irmã do meio para viajar e que isso era
uma oportunidade ímpar. Se ele quisesse dar um tempo, tudo bem, eu
entenderia e um mês era bastante tempo e tal.
Ele: - Imagina! Por você eu espero até a
vida toda! Nada disso de terminar! Eu te espero!
Beleza. Então tá combinado
assim. Só que eu fiquei doente na viagem e tive uma inflamação na garganta. Meu pai resolveu voltar mais cedo. Voltamos bem mais
cedo do que o esperado.
Eu desci do ônibus ainda com a
bolsa de viagem na mão e passei na padaria da esquina para comprar alguma coisa
para comer. Nisso que eu vou caminhando para casa, vejo o André de mãos dadas
com uma menina passeando todo feliz e no maior love.
Eu pensei que estava vendo miragem,
mas apressei o passo para ficar exatamente atrás dele com a garota. Caminhei bem próximo, coisa de um palmo de distância, e uma hora ele
resolveu olhar para trás e deu de cara comigo. Quase matei o cara do coração ha ha ha!
Ele soltou a mão da garota na
hora visivelmente nervoso. Eu ultrapassei eles e virei para os dois: - Oi, André, tudo bem?
Bem
friamente… Ele não sabia aonde enfiar a cara.
Cheguei em casa, arrumei minhas coisas, tomei um banho e fiz um café. A campainha
tocou, era ele querendo se explicar.
Eu: - Você não precisa falar mais nada. Eu
não quero ouvir nada que você tenha a dizer. Eu só tenho pena da garota que
também não sabe quem você é de verdade. Não me procure nunca mais!
E fechei o portão, decepcionada sim, mas liberta…
3 – Decepção com o amigo/a:
Quando estamos no meio da tempestade e aparece uma
pessoa te oferecendo um ombro amigo, a tendência é se jogar sem se preocupar
com quem estamos nos abrindo.
Vale aqui pensar: - Tudo que você disser pode ser
usado contra você no futuro. E realmente é assim.
Por fragilidade, por solidão ou por necessidade de
desabafo, costumamos cometer o erro de falar demais e se expor demais para as
pessoas erradas.
Talvez porque eu seja escorpiana, não abro a minha vida para
os outros. Este suposto “amigo/a” pode sair por aí falando besteiras sobre você
e um dia isso vai parar nos seus ouvidos. Decepcionante, sim, mas evitável.
Fato!
4 – Decepção no trabalho:
Trabalhei por quase dois anos em uma empresa japonesa
com filial aqui na Alemanha. Eles estavam abrindo a firma e ninguém falava alemão
no escritório a não ser dois funcionários: eu e uma engenheira japonesa. A
comunicação interna era toda em inglês.
Eu participei de todo o processo de registro até o de
implementação da empresa aqui na Alemanha. Procurei apartamento para o chefe,
fiz inscrição dos filhos nas escolas, fazia os seguros, a contabilidade, as compras
para o escritório, os pedidos para os fornecedores internacionais, participava
de reuniões, enfim, eu era “pau pra toda obra”.
Aqui na Alemanha existe uma lei que se um funcionário
trabalha mais de dois anos com contrato temporário, o chefe tem que efetivar
este funcionário depois de dois anos. Eu estava na empresa há 1 ano e 11 meses,
preparando os cartões de Natal para enviar para os clientes e funcionários.
Perguntei para ele se meu contrato seria renovado já que estava no fim do ano.
O chefe: - Não. Na maior frieza da face da terra!!!
Não preciso nem dizer tamanha a decepção que senti,
depois de tudo que eu fiz por aquela empresa. Discutia preços, pedia descontos,
controlava e economizava em nome da empresa. Sempre fui boa de lábia e consegui
muitos contratos para ele na conversa via telefone.
Engoli o choro, comecei a arrumar as minhas coisas em
uma caixa e disse que queria o certificado de trabalho para poder dar entrada
no seguro desemprego. O cara sabia da tamanha injustiça que estava fazendo
comigo, mas mesmo assim seguiu sem mover um músculo da cara: - Você receberá
pelo correio.
5 – Decepção com os filhos:
Nenhum pai e nenhuma mãe cria seus filhos e pode ver o futuro. Uma vez eu
falava sobre isso com minha mãe:
- Mãe, a mãe de um assassino ou
de um ladrão não criou ele para ele ser assim como ele é.
Existem coisas que estão muito
além da educação que a criança recebe, dos exemplos que ela tem em casa, do
amor e carinho que ela recebe dos pais.
Minha mãe: - Isso é verdade, minha filha.
Eu: - A gente gera uma vida,
cria até um determinado momento, mas o resto você não pode influenciar mais.
Mesmo que para nós, mães, os filhos sejam sempre aos nossos olhos os nossos
bebês…
6 – Decepção com a vida:
Este tipo de decepção pode ter
fins trágicos como o suicídio, por exemplo. O desespero é tanto que a pessoa já
não vê nenhuma saída a não ser dar um fim no que na opinião dela, não tem mais
jeito… Essa pessoa perdeu o rumo na vida. Não vê mais sentido em nada e nem
ninguém.
Entender aquilo que nos sufoca
e tentar sair do buraco, ou até mesmo tentar por ínfima que seja, transformar aquela
situação em algo novo… Pelo menos em um aprendizado. Essa é a maneira de não se
perder o eixo e de se buscar coragem para mudar.
7 – Decepção como mulher ou homem:
Quem não gostaria de ser mais
alto, mais magro, ter olhos verdes ou azuis, enfim de ser igual ou parecida com
aquela garota de capa de revista que todo mundo admira e comenta a beleza? A
beleza está nos olhos de quem vê. Ôh se está!
A esposa do Jaba do Star Wars
acha ele lindo e é isso aí, ela que tem que achar ele lindo, não a sociedade. E
toda, simplesmente, toda foto de revista é retocada.
Nenhuma dessas fotos sai
purinha como muitos tolos pensam. Rola um monte de filtros, maquiagem, passar uma
fome miserável, para sair como uma deeeeeeusa nessas fotos. Deus é bom, mas nem
tanto assim kkkk. Tô brincando, chefe…
8 – Decepção dos sonhos não realizados:
Sempre quis aprender a andar
de patins e nunca tive coragem. Já sentia dor na bunda só de olhar para um par
na vitrine de uma loja. Eu aprendi a andar de bicicleta com 15 anos, já velha.
Muitas coisas que sempre tive vontade de fazer e nunca tive coragem, estou
tendo coragem agora, depois de velha.
Acho que é por causa do
relógio biológico me dizendo internamente que em breve não vou poder mesmo
fazer todas essas coisas por falta de condição física para isso. Então, se
jogue e realize tudo que você sempre quis fazer enquanto ainda pode! A idade
chega para todos e aí ó a vaca foi pro brejo, ou o brejo não existe mais ou a
vaca morreu kkkk ;).
9 – Decepção nas redes sociais:
Mentiras sob mentiras nas
redes sociais. Livrai-me de toda ruga e gordurinha do mal, meu Santo Photoshop kkkkk!
Muita gente usa uma foto da época que usava fraldas ainda! Isso não vale, gente! Ou tem aqueles que colocam fotos
de outras pessoas no perfil.
Se você quer encontrar um namorado,
parceiro ou alguém para chamar de seu, não faça isso nas redes sociais, fique esperto,
pois o príncipe pode ser sapo. Isso se ele não for um jirino!!!
10 – Decepção natalina (como já está próximo do Natal, resolvi incluir este item):
Esperamos o ano inteiro para
colocar uma roupa bonita, se arrumar toda, fazer comida para um batalhão e isso
tudo para celebrar o Natal ou Ano Novo em família. Há aquela expectativa de
harmonia, de fartura, de recomeço e de felicidade. E o que acontece?
A mãe está estressada, porque
o arroz queimou e não deu tempo dela fazer a unha dela. O avô cochila no sofá da
sala dizendo que não quer barulho. A irmã vai para a casa do namorado, porque
sabe que toda festa de família termina em estresse pré-programado.
Na hora do rango você esperou
tanto que já nem está mais com aquela vontaaaaaade toda de comer pernil com
farofa e um pudim de Leite Moça como sobremesa. Epa! Mas agora chegou a hora
dos presentes! Presentes! Ding ding ding ding igual o jackpot de casino…
Todos sentamos em círculo na
sala e começamos a troca de presentes. Você toda orgulhosa por ter comprado um
presente bacana e fica esperando, que no mínimo, o seu presente seja bacana
também… Eu odeio amigo-oculto por este motivo!
Uma vez dei um livro de presente e ganhei um presto-barba daqueles descartáveis.
Eu abri o pacote e pensei:
- Tá de sacanagem com a minha
cara!?
Ou será que a pessoa tá me
achando cabeluda e fedorenta?
Summa summarum:
Decepções são forças
propulsoras que te obrigam a iniciar um processo de mudança para melhor!
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E obrigada por visitar meu blog!!!
* Professora de
Alemão (Deutsch als Fremdsprache DAF, com certificado do MEC
Ministério Alemão - BAMF-Zulassung) e Português para
Estrangeiros (PLE na Universidade de Tübingen), Licenciada em Letras
Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro, Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls
Universität de Tübingen e Doutoranda em Translation Studies.
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