11/09/2013

De volta das férias/ Vom Urlaub zurück


Por Albany Estrela Herrmann*

Olá, meus queridos. Eis que estou de volta à ativa e resolvi escrever um pouco sobre as minhas férias. Como não poderia deixar de ser, a rainha das listinhas que vos fala, preparou mais uma. Aí vai:

1- Comer em rodízio
Mein Fresstempel schlechthin!

A tradução correta da palavra rodízio em alemão deveria ser “Fresstempel” (templo para devorar ou da gula). Nossa, se não fosse a balança, visitaria um destes toda semana. O problema vem depois com o estômago pedindo socorro… Morro, mas morro feliz! 

Restaurantes self-service, outro pecado ao meu ver, pois com tanta fartura, a gente acaba perdendo a linha. O ato de montar o prato, acaba virando um malabarismo e atividade acríbica na hora de empilhar as mil e umas comidas no pratinho raso que eles têm. Como queremos provar de tudo um pouco, o prato acaba tornando-se uma obra digna das do saudoso Oscar Niemeyer… E depois, por fim, locomover isso até uma balança sem deixar cair nada é outro ato de bravura! 

2 - Contratar serviços de um pedreiro

Normalmente quem contrata no Brasil é o „homem da casa“. Como na minha casa, este também sou eu, tenho que enfrentar algumas dificuldades básicas com estes caras:

-      Conhecimentos de matemática básica. Tudo bem que eu estudei Letras, mas não sou “número-fabeta“ não, gentem! Caramba! E olha que eu tento ser o mais gentil possível com as pessoas. Afinal, gentileza, gera gentileza e não lerdeza, gera lerdeza!

-        Falar contigo como se você fosse retardada e achando que vai se dar bem as suas custas, porque mulher não entende nada de obra mesmo… Ledo engano… Comigo não, violão!

-     O indivíduo demora 3 dias para um serviço de meio dia, porque pára toda hora para ficar de papo com o vizinho ou um amigo que passa na rua… 
-         Eu: Tem problema não! Eu só vou te pagar quando você acabar mesmo…
Quanto mais tempo você demorar, mais tempo vai ter que esperar para receber o seu dinheiro… E não é que depois disso o negócio saiu como que num passe de mágicas!!! Rs rs rs

-  Como alguém pode trabalhar na construção civil sem usar medidores e ferramentas??? Este „mistério da Esfinge” ele não soube me explicar até agora… Tipo cirurgião sem bisturi, professor sem livro, analista de sistemas sem computador, piloto sem avião, dentista sem dente, cantor mudo, motorista sem carro e por aí vai…

3 - Marcar alguma coisa com alguém

Você se arruma toda e fica esperando sem que a pessoa apareça ou pelo menos avise que não vai mais… Eu já tinha esquecido que nem tudo que se diz é sério no Brasil. Muitas pessoas gostam do “ser simpatiquinho na hora”, mas vazio depois, do que o direto ao ponto e doa a quem doer típico da Alemanha. 

Neste ponto, prefiro ser igual ao alemão que te fala na lata o que pensa, mas que também não cria expectativas em vão. Se ele fala que vai, ele vai. Se fala que faz, ele se vira nos trinta e faz. Nem que seja ao badalar do sino da meia-noite. 

Nem sempre, o nosso “passa lá para tomar um cafezinho” significa mesmo que queremos tomar o tal do cafezinho ou ver aquela pessoa de novo. Simplesmente é uma finalizada de papo simpática que ocupa mais ou menos o lugar das reticências na frase… To be continued… Fortsetzung folgt… 

4 - Praia de Copacabana

Fui comprar uma água de côco e ouvi do vendedor que sou gatinha! Ha ha ha, ganhei o dia, moço - respondi no maior bom-humor! Primeiro que de “inha” não tenho mais nada e depois que eu estava de chinelo, biquini, largadona “num doce balanço a caminho do mar” rs rs rs.

5 - Hey, wanna buy some? Cheap! Cheap!

O camelô falando inglês comigo
E o camelô de cangas e toalhas que vê minha branquice e me oferece a mercadoria só que em inglês. Eu: - Pô, aí, eu sei que tô brancona, mas falar comigo em inglês é sacanagem, hein? Putz!

Ai, ai, mas voltando aos elogios, faz falta ouvir essas coisas, viu? Mesmo que seja mentira ou que ele esteja só com segundas ou terceiras intenções, o efeito é benéfico de qualquer maneira. Sem dú-vi-da!!! Se é verídico, são outros quinhentos!!!

6 - Levar um tombão no meio da rua, levantar e sair de fininho 

Por causa de um quebra-molas que mais parecia ter sido feito inspirado nas Muralhas da China, levei o maior tombo!!! A vergonha de levantar toda ralada foi pior do que o tombo em si! 


Fiquei com o braço e o joelho ralados para lembrar do mico que passei. Epa, peraí, mas falando em mico, alguém sabe de onde vem esta expressão? 
Ela vem do baralho infantil Jogo do Mico, fabricado no Brasil desde a década de 1950. No jogo, as cartas têm figuras de animais e o jogador tem que formar pares com o macho e a fêmea de cada espécie. Mas no baralho o mico não tem par! Quem termina com a carta na mão perde, ou seja, paga o mico.

7 - A praia estava deserta

Ir para praia no inverno e ver que está quase que vazia! Tudo bem que a água estava geladona igual ao que costumo encontrar aqui na Alemanha, mas o sol estava show. Nem muito quente, nem muito frio. Apenas perfeito para a minha pele desbotada e quase que transparente. O bom de ser carioca é que 30 minutos já são suficientes para adquirir um bronze legal. Graças à farta melanina que painho me deu, fico morena rapidinho…

8 - Andar de ônibus no Rio

O motor do lado do motorista
Percebi de perto o estresse que os motoristas/cobradores passam. Comentei com uma amiga a respeito disto. Muito desumano fazer alguém trabalhar por dois, no trânsito do Rio de Janeiro e ainda por cima ser descontado direto na folha de pagamento por todo e qualquer dano exterior causado. O seguro (quando um foi feito) só cobre a parte mecânica do ônibus. Espelhos, vidros e pintura são problema do motorista caso sejam danificados.

Sem falar que o Mercedes-Benz standard não funciona no Brasil. O coitado tem que trabalhar com o motor do lado, um calor e barulho infernais e isso por horas e horas. O motor geralmente fica embaixo do carro, é bem escondido e silencioso, mas no Brasil fica do lado do motorista.


9 - Eu não sou fresca só porque moro no exterior

Primeiro que eu não falo nada a este respeito. Pra quê ficar fazendo este tipo de “marketing pessoal” no Brasil? Quando encontro alguém na rua e este alguém me pergunta por onde tinha andado, respondo que não moro mais ali e que moro no sul. O que não deixa de ser verdade, moro no sul, no sul da Alemanha. 

Existem algumas pessoas que sabem e fazem questão absoluta de dizer isso. Exemplo: Eu na fila do Carrefour, pensando na vida, esperando a minha vez de pagar, quando passa um conhecido. 

Ele berrando: - E aí, AAAAAAlbany, como vai a Alemaaaaanha? Você na mora na Alemaaaaaanha, né? Eu baixando a cabeça: - Ahan, faço o sinal do tudo jóia e viro para o outro lado. 

Ou ainda uma conhecida que nunca falou comigo antes e nem sabia que eu existia e que passa a ser sua “amiga íntima” depois que sabe que você mora fora:
Ela: - Essa menina é como uma filha para mim (passando a mão no meu braço de baixo pra cima e de cima pra baixo num movimento frenético que me sacode pra lá e pra cá o tempo todo). 

Penso: - Como é que é, hein? Ela nem olhava pra minha cara antes… Como são as coisas, né? Passei de inexistente, a ser emergente e agora até virei parente… rs rs rs Até rimou rs rs rs!

 10 - Eu andando rumo à padaria da rua

Um outro conhecido berra: - Aeee, Albany, chegou de viagem?
Eu: - Anhan e meu famoso tudo jóia de sempre.
Ele: Ae, tu não trouxe uns tenisinhos de presente para gente não?
Eu penso: - Ele deve estar confundindo a Alemanha com Paraguai e achando que eu vivo de muamba…

Eu, mudando de assunto e sendo discreta: - Vou correr para pegar o pão quentinho na padaria, tá? E saio correndo, correndo mesmo…


* Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.
 
 

6 comentários:

Marina Ernst disse...

Hahahahaha ótimos comentários, principalmente os pontos 3 e 9. Essa do desconhecido efusivo é f"$%. :P Willkommen zurück!

Albany Estrela Herrmann disse...

Obrigada, minha linda! Espero, em breve, poder fazer outro trabalho com você, mas desta vez com outra empresa! rs rs rs Bjs. Albany :-)

Denise Tosta Kessler disse...

Também gostei! E de fato os pontos 3 e 9 parecem ser uma regra... só levando com humor mesmo (como voce faz) pra nao se estressar, né?

Albany Estrela Herrmann disse...

Você sabe que eu procuro ver o lado bom das coisas, mesmo estando na m... Perder o controle só faz as coisas ficarem piores do que já sao, né? Bj grande!

Alberto Neto disse...

Muito divertido os comentários! é exatamente desta forma que as coisas acontecem...

Albany Estrela Herrmann disse...

Olá, Alberto! Obrigada por me prestigiar mais uma vez. No px encontro de ex-alunos de Processamento de Dados, vc nao pode faltar! O Jackson e a Elisabeth disseram que querem ir! Vamos mobilizar o pessoal e tirar uma foto de recordacao da nossa turma de PD-B!!!! Bjs. Albany :-)