Por Albany Estrela Herrmann*
O „jeitinho brasileiro“nada mais é do que nossa
habilidade nata de transformar um problema ou uma situação difícil e de se encontrar
com muita versatilidade, seja lá como, uma solução para tudo:
- Calma que a gente dá um jeitinho nisso!
Situações ou resultados inesperados, as famosas “saias-justas”
são resolvidas por meio de jogo de cintura, humor, calma e sobretudo, com a
nossa criatividade inesgotável. Para tudo encontramos uma saída…
Keine Deckenlampe? Kein Problem! |
Concordo que nem sempre são as melhores saídas e
muito menos que elas sejam sempre „politicamente corretas“, mas encaro o nosso „jeitinho“
como algo positivo. Parece ser um sinônimo de otimismo e de esperança eternos.
Nós tentamos ver o lado bom das coisas e sem desespero, lutamos até o fim em
meio ao nosso “caos organizado”.
Segundo o professor Lourenço Stelio Regia, autor
do livro “Dando um jeito no jeitinho”, o nosso jeitinho pode ser entendido de
maneira positiva ou negativa. Em se tratando do lado negativo ele afirma que o
jeitinho pode ser encarado como:
. uma corrupção ou tentativa de suborno,
. uma tentativa de se levar vantagens e,
. tem ligação
direta à maladragem.
Suas características positivas seriam:
. uma função solidária de se tentar ajudar uma pessoa,
. a criatividade e inventividade para a busca de
soluções alternativas.
Vejamos alguns exemplos concretos:
Exemplo 1:
Guarda de trânsito pára um carro para aplicar uma
multa.
Motorista: - Não dá para o senhor dar um jeitinho e me livrar dessa?
Exemplo 2:
Esposa falando com o marido: - Amor, a máquina de
lavar parou de funcionar de novo!
Marido: - Espera aí que já vou dar um jeitinho
nela. Deixa comigo!
Expressomaschine mal anders... |
Analisando o nosso jeitinho quanto à morfologia
da palavra, em sendo uma palavra no diminutivo, ela revela já a partir desta
escolha, toda uma carga afetiva. Meu estudo e trabalho “As dimensões
pragmáticas das formas de diminutivo do Português do Brasil” me revelou os
muitos prismas sobre estes usos especiais, em diferentes classes gramaticais e em
diversas situações e níveis de fala.
Na minha opinião, os conteúdos aqui mencionados são
bem parecidos. Tanto as formas de diminutivo quanto o nosso “jeitinho” são
maneiras simpáticas para amenizar algum conflito e refletem de forma simpática
toda uma gama de informações interculturais e comunicativas que não aprendemos
em sala de aula. O diminutivo vai mais além e é, sem dúvida, a forma mais
aplicada e mais produtiva dentro do contexto linguístico do Português
brasileiro.
Não adianta ensinar somente a gramática, sem repassar
os muitos contextos culturais aonde ela atua:
- Fica sempre faltando uma pecinha
neste quebra-cabeças! ;-)
* Professora de Português para
Estrangeiros na VHS de Stuttgart, Licenciada em Letras Português e Alemão
pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia
Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.
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