13/03/2013

Sobre a origem dos mamulengos

                Albany Estrela Herrmann[1]


Alguns estudiosos afirmam que a origem deste tipo de teatro seria na Antigüidade, mas precisamente teria originado-se na Índia. Estes fantoches já existiam nas feiras livres da Grécia e Roma. Foi a partir da Idade Média, na Itália, que esta arte espalhou-se por vários países europeus.

Na França, por exemplo, adotou-se o nome de marionete, na Alemanha Kasperle Theater e por fim chegou à América do Sul, mais especificamente no Brasil, trazida pelos holandeses que se estabeleceram durante 14 anos no nordeste brasileiro para a extração e cultivo de cana-de-açúcar. A palavra mamulengo tem a sua origem da expressão mão mole:

mão mole > mão molenga > mão mulenga > mamulengo

Este tipo de marionete sem cordas é manipulado pelas mãos que são introduzidas na figura como se fosse uma luva. Os dedos movimentam os braços e a cabeça. Geralmente a forma teatral é cômica ou satírica, tratando de temas divertidos. O mamulengo é um divertimento popular barato e seus palcos são, em sua maioria, improvisados.

Durante muito tempo usou-se os fantoches exclusivamente para representações religiosas, ensinando-se a Bíblia para as crianças, mas com o passar do tempo, foram introduzidas outras temáticas. Hoje em dia, são tratados os mais diversos temas visando prender a atenção da platéia. Estes bonecos podem ser feitos de madeira, de metal, de papel marchê, de barro, de tecido e etc...

No Rio Grande do Sul, os colonos alemães trouxeram o “Kasperle Theater” tendo como personagem principal o boneco Kasper que se veste igual a um palhaço, um bobo da corte. O nome Kasper foi “abrasileirado” para Gaspar e passou a ser o narrador de lendas brasileiras para as crianças da região. Como por exemplo, a lenda do Negrinho do Pastoreio. Este tipo teatral,em geral, infantil, tem um papel educativo muito importante no Brasil, sendo levado a várias escolas e também na TV.

Os bonecos gigantes do carnaval de Olinda também são espécies de mamulengos, só que com um formato maior e exagerado. Desta forma, eles são mais visíveis em meio a imensa multidão que circula nas cidades na época do carnaval. Um dos artistas mais famosos em Pernambuco foi Dr. Babu e mais tarde o seu sucessor “Cheiroso”.

Além disso, o Boi-Bumbá é uma festa do folclore amazonense que ao mesmo tempo que apresenta contos, lendas e danças indígenas, faz um show com bonecos gigantes. Presença obrigatória é a do boneco boi (o manipulador “se veste” de boi e entra no boneco para movimentá-lo ou é parte integrante dele como um montador), por ser o tema principal da festa.
Na região de Manaus, mais precisamente na cidade de Parintins que foi habitada por índios, surgem personagens da mitologia indígena como o Curupira e o Boto que se misturam aos santos católicos como São João, São Pedro e Santo Antônio. Esta mistura de culturas enriqueceu a festa com feiticeiros, pajés e xamãs que pretendem ressucitar o boi morto no final da festa.

O iniciador desta festa teria sido Lindolfo Monteverde que impressionou-se com as lendas e histórias que sua avó lhe contara quando criança, aonde um boi alegre e brincalhão era a personagem principal. Sr. Lindolfo adoeceu gravemente e na tentativa de ser curado fez uma promessa para São João que sairia vestido de Boi todo ano. Esta união da cultura indígena regional e do trabalho de catequização portuguesa feito nesta região, fez com que as crenças se misturassem.

Sendo assim, seja qual for o nome que damos a estes bonecos: fantoches, marionetes, mamulengos e etc... eles têm sempre um papel significante e presente na infância da gente.


Agradecimento:
Gostaria de agradecer imensamente a todos os amigos e colegas por divulgarem e apreciarem meu trabalho. Além disso, gostaria de agradecer pelas numerosas visitas de vários lugares diferentes. Last but not least:
 - Thank you very much, Evodio for your support and for the co-working. Albany

[1] Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität Tübingen.

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